MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

Introdução

Quando se fala em Brasil, logo vem à cabeça sensualidade, curvas, ondas de mar ou até mesmo a própria esfera do universo. Falando em Oscar Niemeyer nada se difere, um artista, poeta e arquiteto regional trata suas obras de arte e seus maiores desejos em minuciosos projetos arquitetônicos buscando técnicas inovadoras e resultando em formas livres e traços monumentais. Neste trabalho apresenta-se um panorama de uma das obras deste arquiteto, a passarela do Memorial da América Latina, que se encontra dentro de um conjunto de sete obras que enaltece a união de países da língua latina, tendo como símbolo a mão feita de concreto armado, onde se encontra o mapa do continente latino americano delimitado da cor sangue descendo ao punho. Esta estrutura não fugindo do conceito monumental, traz em si a curva quase que flutuante levando seus visitantes de um ponto ao outro. Analisando sua estrutura iremos verificar uma maneira diferenciada de se projetar este tipo de obra, onde por sua vez é utilizada uma espécie de ancora, vinda da fundação em armadura passiva, ao meio da passarela onde é enganchada, fazendo com que haja grandes vãos livres. É viável ressaltar as condições do solo e o respeito de certos princípios, tendo em vista suas características físicas e mecânicas como: a densidade, o ângulo de atrito interno e a coesão.

MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

Em 1989, durante o governo Orestes Quércia, foi inaugurada em São Paulo uma obra monumental denominada “Memorial da América Latina”. Trata-se de um conjunto de sete obras dignas de figurar entre as mais notáveis em todo o mundo, servindo de pólo de união dos diversos países de língua latina, desde o México até a Argentina. A idealização da obra foi concebida ao artista plástico mais conhecido do Brasil, Arquiteto Oscar Niemeyer. A construção esteve ao cargo da Construtora Mendes Junior e o cálculo estrutural foi da PROMON – Engenharia, aos cuidados do Prof. Eng. José Carlos Sussekind.

Em 1990, logo após a inauguração, foi publicado pela “Empresa das Artes” um primoroso volume comemorativo, sem título, contendo artigos alusivos à obra, escritos por Orestes Quércia, Darcy Ribeiro, Eduardo Galeano, Fernando Morais e Gabriel Garcia Marquez. A obra contém, também uma descrição sumária do conjunto

sem autor, enaltecendo os dois mil operários e principalmente o mestre-de-obras Oswaldo Gonçalves, que trabalhou sem cessar durante quatorze meses a partir de 10 de janeiro de 1989 até a inauguração do complexo em 1989.

Mais um monumento de concreto armado: uma mão espalmada, sangrando, simbolizando a luta de toda a América Latina pela liberdade, conseguida à custa de muita luta e muito sangue dos revoltosos.

A mão de concreto possui uma altura total de 9m e sai inclinada do solo, sendo escorada por um elemento saliente de concreto com a forma de uma sapata quadrada truncada e dividida ao meio. Desse elemento sai uma pequena laje em balanço que serve de escora ao monumento e, ao mesmo tempo, recebe o sangue que escorre na mão ferida, jorrando de uma área na palma da mão com a forma de toda América Latina.

Esse monumento localiza-se junto à entrada Sul da passarela, em frente ao Salão-de-Atos. Como estrutura, essa obra nada tem de extraordinário, a não ser uma escora provisada, soltando a mão da base, que não representa a sapata de apoio. Para tornar a base bastante leve, sai dela uma pequena laje de 10 cm em balanço, com saliência de apenas 30 cm, que impede o tombamento da escultura, que sai do solo ligeiramente inclinado. As armaduras existentes na mão são puramente construtivas, pois não existem ações externas atuantes, a não ser o peso próprio do concreto. Cada dedo é armado com oito barras de 12,5mm de diâmetro, três barras em cada face, pois os dedos foram estilizados com seção quadrada. Este monumento chama muita a atenção dos visitantes e também dos pedestres que passam por baixo da passarela na rua, que da mesma maneira desperta a curiosidade pelo inusitado apoio fora da projeção do viaduto, com forma de um guarda-chuva ou ancora.

“O Memorial da América Latina promove encontros e experiências, tornando os povos latinos mais próximos, mais solidários nessa luta entre pobres e ricos que ainda hoje assistimos revoltados. Uma arquitetura diferente que exprime a grandeza do empreendimento dentro da técnica mais avançada, guardando espaços para a imaginação do arquiteto, uma arquitetura livre de todos os preconceitos, de todos os dogmas, de todos os princípios limitadores, tendo a razão como enigma da imaginação e da fantasia e do pensamento”.

Oscar Niemeyer.

Objetivos Gerais

O conjunto de obras merece toda a admiração dos brasileiros, pois representa exuberantes criações de grandes artistas como Portinari com o painel de Tiradentes; Franz Weissmann com sua Grande Flor Tropical; Bruno Giorgi com sua escultura denominada Integração; Carybé com seu painel de concreto aparente; Oscar Niemeyer com a mão de concreto, entre outros. Não somente pela beleza plástica, como também pela grandiosidade do concreto que recebe: numa das obras, a biblioteca, o recorde mundial de vão do mundo em concreto protendido em obras civis, com 90m. Esta obra destronou o museu de arte do Trianon, cujo vão, também em concreto protendido, possui somente 70m.

PASSARELA DO MEMORIAL DA AMERICA LATINA

Uma das mais notáveis obras construtivas recentemente no Brasil, no final da década de 1980, foi o Memorial da América Latina. Este é um conjunto de sete obras, uma delas com a marca recorde do mundo em vão de concreto propendido em obras urbanas. O Memorial, construído numa área de São Paulo atravessada por uma avenida, começa junto à estação Terminal do Metrô Barra Funda. Os visitantes que alcançam a região pela linha Barra Funda, Itaquera do Metrô atingem a região do outro lado da avenida através de uma passarela. Depois de pronto Oscar Niemeyer, idealizador do Memorial, não achou bonita a obra com um pilar central no meio da avenida. A obra teria que ser monumental, como todas as demais do conjunto. Tendo autoridade total na concepção do conjunto de obras, decidiu eliminar o pilar deslocando-o lateralmente para fora da passarela.

A passarela, curva em planta e em elevação, possui o comprimento total desenvolvido de 114,38m distribuído em cinco tramos contínuos. A Obra é quase simétrica, afastando-se da simetria por causa dos canteiros e das duas pistas da avenida que atravessa. Começa e termina com balanços de dez metros que atingem o solo exatamente na mesma cota. Com rampas de 15% atinge os apoios vizinhos aos extremos, com vãos de 26,64m e 27,33m. Os dois vãos centrais são respectivamente 20,98 e 19,48m.

O pilar central, de seção circular com 100 cm de diâmetro, estava inicialmente exatamente no centro do viaduto e no canteiro central entre as duas pistas da avenida. Por razões exclusivamente estéticas foi demolido e executado um pilar fora da projeção da passarela. O novo pilar foi executado com fundações próprias sobre oito estacas, deslocado 7,50m do eixo da passarela, com seção transversal variável em forma de trapézio, reto e oco nos primeiros 10,50m. O novo pilar que avança por cima da passarela e sustenta toda sua estrutura pela parte de cima.

Três cabos de protensão constituídos de doze cordoalhas de 12,7mm de diâmetro transferem a carga, que inicialmente era centrada, para a nova fundação comum para receber um pilar de 125 x 250 cm com grande momento fletor na fundação, o deslocamento lateral da passarela seria muito grande. Unindo o novo bloco ao antigo por meio de uma viga alavancada, ou viga de equilíbrio, o braço de alavanca nas fundações aumenta bastante e o momento devido à excentricidade fica absorvido internamente na própria estrutura do pilar e não nas estacas. Desta forma, as cargas nas oito estacas ficam praticamente constantes. Os três cabos de protensão começam centrados e ancorados no meio da passarela, na face interior, ficando quase despercebidos, sobem pela face externa do pilar curvo e chegam na base com excentricidade máxima. Do ponto de vista executivo, seria muito difícil efetuar a protensão por baixo do bloco de fundação.

Por isso as três ancoragens inferiores foram pré cavadas, garantindo sua eficiência e proteção contra corrosão e transformadas em ancoragens passivas (são aquelas dispostas sem tensões prévias nas peças estruturais, empregam-se aços dos tipos comuns, utilizados no concreto armado convencional). A aplicação da protensão foi feita pela parte superior, por baixo da passarela. O alongamento dos cabos de vinte e quatro metros deve ter sido da ordem de 160mm. Ao terminar a operação de protensão, houve automaticamente a liberação do escoramento provisório, feito para se conseguir a demolição do pilar original.

Conclusão

A partir do material pesquisado e elaborado podemos concluir que o Memorial da América Latina fora e é uma das grandes obras arquitetônicas criadas por Oscar Niemeyer ou até mesmo no mundo, trazendo contigo não apenas uma estrutura edificada, mas sim um grande conjunto de monumentos diferenciados, com inúmeros artistas, que por sua vez se dialogam, tanto no campo artístico, visual ou edificado. Mostrando aos seus contempladores o sentimento, sofrimento de uma determinada nação, que são os latinos.

É eminente perceber a acessibilidade existente nestas obras, tornando o interesse de seus visitantes mutuamente vinculado a necessidade que estes monumentos possuem de ser contemplados, e da passarela do memorial não poderia ser diferente, pois nela há de se perceber todos os elementos antropométricos para que se possa atender a demanda que ali irá se encontrar. Não somente pela acessibilidade, mas também em sua estrutura que inicialmente foi pensada para ligar dois pontos, hoje se torna um exemplo de estética x sistema construtivo, onde há uma eliminação do pilar chave para mantê-la de pé, e o mesmo pilar é projetado fora da construção fazendo que se tornasse uma ancora de engate, dando uma visão de que esta passarela esteja flutuando diante a uma avenida.

Referências

FUNDAÇÃO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA. Integração das Artes: Memorial da América da Latina. São Paulo: Projeto PW, 1990.

A. GUERRIN. Tratado de Concreto Armado, As Fundações. 2. ed. São Paulo: Hemus, 2003.

ENGETEC PROT. Materiais e Equipamentos. Disponível em: http://www.engetecprot.com.br/home_materiais_princ.htm. 25 de maio de 2009.

VASCONCELOS, AUGUSTO CARLOS DE. O Concreto no Brasil Pré-Fabricação, Monumentos e Fundações. Vl. 3. São Paulo: Studio Nobel, 2002.

2 Respostas para “MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

  1. Estou fazendo um tcc de moda inpirado no Oscar Niemeyer e mais especificamente no Memorial, achei seu blog de uam grande utilidade, e gostaria de saber onde eu acho esta publicação q qual vc se refere.

    Desde já agradeço
    Isis Flores

    • Ola Isis, todos estes livros tive acessos atraves da biblioteca de minha universidade, porem o ” O Concreto no Brasil Pré-Fabricação, Monumentos e Fundações” do Vasconcelos tem pra download na internet.
      Se precisar de algum conteúdo especifico, ou ate mesmo o trabalho na integra se comunique através do email: diegogomes.arq@gmail.com

      Bom trabalho!

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