O Anticristo da Arte
Em janeiro de 2003, o Museu Guggenheim de Arte Contemporânea de Bilbao, localizado no norte da Espanha, exibiu uma pintura sobre madeira bregamente intitulada “Turbilhão de Amor”. Junto à obra um cartão com a identificação do autor: “Mike Nedo, nascido em Nairobi em 1954, tela de 1978”. Ainda, uma placa afirmando que a tela era um presente de um tal de Annika Barbango para o Museu Guggenheim de Nova Iorque. A obra mostrava um coração vermelho se esvaindo em espiral e permaneceu na Sala Pez por horas.
Até que alguém se deu conta de que havia na sala mais telas do que informava o catálogo. E logo a verdade veio à tona: tratava-se de um engodo.
Sua divulgação correria o mundo. Em pouco tempo, todos saberiam que o artista Mike Nedo não existia. A tela havia sido pintada por um anônimo que a concluíra em poucos minutos, da pior forma possível.
À moda dos grupos terroristas que se responsabilizam por atentados, apresentou-se um grupo chamado “Coletivo de Artes Mike Nedo”. Em vídeo, um homem usando máscara e gorro, informou que dois dos membros do grupo haviam entrado no museu e fixado a tela sem que qualquer alarme de segurança fosse acionado. O objetivo? Apresentar um “quadro-lixo” para contestar a arte contemporânea e seu valor, além das instituições como o Guggenheim.
“Mike Nedo quer demonstrar duas coisas. Uma, que qualquer um pode ser um grande artista. Dois, que qualquer coisa em arte pode ser importante se difundida da forma adequada”, afirmaram os ativistas, que intitulavam seu grupo, segundo Jean-François Mattei”
MATTEI, Jean-François. A arte da insignificância. Disponível em: http://w3.ufsm.br/revistaletras/artigos_r28_29/01_matie.pdf.